Mons. Domingos Silva Araújo
1. Prosseguindo o tema da semana passada começo hoje por informar do milagre eucarístico de Santarém, também chamado de Santíssimo Milagre. Aconteceu no ano de 1226 (ou o de 1247, segundo alguns cronistas). Maltratada pelo marido, que a traía, uma senhora recorreu aos serviços de uma outra senhora, vulgarmente designada por bruxa. Esta prometeu acabar com a má situação mas para tal necessitava de uma hóstia consagrada. Contrariada, mas desejosa de ver normalizado o relacionamento com o marido, a senhora foi à Igreja de Santo Estêvão onde se apresentou para comungar. Recebida a Sagrada Partícula, com a maior das cautelas tirou-a da boca e embrulhou-a num véu. Dirigiu-se de imediato para casa da «feiticeira», não se apercebendo de que do véu escorria sangue. Alertada por pessoas que encontrava, desejosas de saberem que ferimentos tinha, inverteu a marcha, foi para casa e escondeu a Sagrada Partícula numa arca. Alta noite, na cama com o marido, acordam os dois e veem toda a casa resplandecente. Da arca saíam misteriosos raios de luz. O remédio foi contar ao marido o que tinha feito. De joelhos, passaram o resto da noite, em adoração. Manhazinha, o pároco foi informado do sucedido. A notícia correu célere e muita gente acorreu ao local. A Sagrada Partícula foi, então, levada, processionalmente, para a Igreja de Santo Estêvão, onde permanece. No local onde vivia o casal encontra-se, atualmente, a Ermida do Milagre.
2. Factos extraordinários ocorreram, também, com diversas pessoas devotas da Santíssima Eucaristia. Recordo o sucedido com a Beata Alexandrina Maria da Costa (Alexandrina de Balasar): Desde 27 de março de 1942 até à morte, em 13 de outubro de 1955, durante treze anos e sete meses, viveu em completo jejum e total anúria (supressão da formação da urina). O seu único alimento era a Comunhão eucarística. Em 13 de outubro de 1953 Jesus explicou-lhe: «Tirei-te a alimentação. Fiz-te e faço-te viver só de mim para provar claramente aos homens o meu poder, a minha existência».
3. Este caso foi rigorosamente examinado por diversos médicos, quer em casa da Doente quer durante um internamento na Casa do Refúgio de Paralisia Infantil da Foz do Douro, entre 10 de junho e 20 de julho, onde esteve durante quarenta dias e quarenta noites, sob uma vigilância apertadíssima, de noite e de dia. O Médico Dr. Gomes de Araújo escreveu então um relatório onde se pode ler: «É para nós inteiramente certo que, durante os quarenta dias de internamento, a doente não comeu nem bebeu; não urinou nem defecou, e esta circunstância leva-nos a crer que tais fenómenos possam vir a produzir-se de tempos a tempos. Não podemos duvidá-lo. Há neste caso estranho tais pormenores que, pela sua importância fundamental de ordem biológica, com a duração da abstinência de líquidos e da anúria, nos tornam suspensos, aguardando que uma explicação faça a necessária luz». A Doente sentia fortemente os estímulos da fome e da sede, mas se lhe davam nem que fosse uma só gota de água, vomitava-a imediatamente. Nestas condições, porém, teve força para rezar, cantar, falar com as visitas durante horas a fio e teve todos os meses as menstruações até aos 47 anos de idade, declarou o Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo, que foi seu médico assistente desde janeiro de 1941 até à morte, em 1955.
4. Não sendo caso único, este jejum faz lembrar situações idênticas vividas com a Beata Ângela de Foligno, que passou doze anos sem tomar alimento algum, a não ser a Sagrada Comunhão; Santa Catarina de Sena, que assim viveu durante oito anos; Santa Ludovina, que passou assim 28 anos; Teresa Newmann, que esteve em jejum durante 36 anos.
5. Mistério da fé! Mistério admirável da nossa fé! Na Hóstia Consagrada não está um bocadinho de pão.”