Para uma celebração eucarística sinodal – I

Pe. Carlos Vaz

​Aproxima-se o 5º Congresso Eucarístico Nacional, tendo como tema: «Partilhar o Pão, alimentar a esperança – Reconheceram-n’O ao partir o pão» (Lc 24,35).

​Os frutos que se esperam de um acontecimento como este dizem respeito, essencialmente, a uma melhor compreensão do que é a Eucaristia, para que a fé nela seja mais sólida e esclarecida, tendo como frutos: uma vivência mais profunda e sentida na celebração deste augusto sacramento; e uma incidência na vida concreta dos cristãos que os leve a serem realmente missionários. A missa nãofica cumprida na celebração litúrgica, pois nos envia para realizar na vida concreta das pessoas o «partir do pão», isto é, «participar das suas alegrias e esperanças, angústias e tristezas, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, pois não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração». (Gaudiumet Spes, nº 1)

​Ora, uma das críticas mais generalizadas, infelizmente com bastante fundamento, é a de que as celebrações eucarísticas são demasiado rotineiras, sem verdadeira dinâmica festiva, sem verdadeira vivência que motive e atraia, quer por parte do presbítero que preside, quer de boa parte, senão da maioria dos membros daassembleia reunida. Há eucaristias dominicais de 25 a 30minutos que, de verdadeira celebração nada têm, e enfastiam mais que qualquer outra. E há eucaristias de 55 minutos ou mais, que proporcionam gozo espiritual, apreensão do essencial da mensagem veiculada pelos textos da Palavra e da própria eucaristia, e vontade de continuar a saborear em silêncio e intimidade o que se pronunciou, escutou, cantou e observou.

​A eucaristia não se compadece com a frivolidade de quem preside e de quem apenas ‘assiste’, como ainda se ouve dizer. Para poder ser realmente o que deve ser: – celebração festiva e gozosa do Sacramento da nossa fé, fonte e cume da vida cristã – exige de quem preside, que o faça com total foco e enfoque nos gestos, nas palavras, nas acções e nos silêncios, sabendo articular bem e diferenciar a entoação das frases, conforme se trate de: saudações, convites à participação no louvor e nas preces; proclamação de hinos, orações, prefácio, epiclese, consagração, doxologia, diálogos e incentivos vários que dirige ao longo da celebração, deixando transparecer que realmente está imerso no Mistério que, por dádiva divina da ordenação sacerdotal ou episcopal, lhe compete presidir e dinamizar da melhor maneira possível. As frases dos diálogos do sacerdote com a assembleia não podem ficarencavalitadas umas nas outras, num frenesim de despachar, sem chama e sem alma, em vez da nobre simplicidade de quem se entrega de alma e coração àquilo que diz, faz, canta e convoca a assembleia a fazer.

​Dos fiéis, depois de devida e paciente elucidaçãosobre o que são chamados a dizer, a cantar, a escutar, a proclamar, a ver e a interiorizar silenciosamente no decorrer da celebração, espera-se que se ouçam uns aos outros, rezando e respondendo com o mesmo ritmo e com uma vivência interior que denote entusiasmo e maravilhamento. Para tal, é preciso dominar bem os tempos das respirações e a profundidade das mesmas, das pausas exigidas pelo próprio texto, tais como: vírgulas, sobretudo nos vocativos; pontos finais, ponto e vírgula, dois pontos, bem como os sinais de interrogação e de exclamação, para que, quanto dizem, cantam e fazem,ganhe pleno sentido, e se manifeste como verdadeiramentesaboreado e interpelador para todos, mesmo aqueles que não sabem ou não conseguem participar tão ativamente como seria ideal e desejável.

​Infelizmente, há bastantes pessoas que não respondem às saudações, às orações, aos diálogos, às aclamações, à recitação conjunta com o sacerdote de certas partes da liturgia eucarística, com a vivacidade, a convicção e o entusiasmo desejados.

​Uma Eucaristia sinodal é aquela em que toda a assembleia celebrante é realmente uma comunidade unida e reunida no Espírito Santo que, movida por Ele, reza e canta de coração cheio e feliz, e exterioriza sem medos o que lhe vai na mente e na alma. Para tal, é preciso saber e interiorizar bem que nós falamos por frases, que devemospronunciar e articular bem cada palavra ou grupo de palavras, respirar fundo entre as frases, para podermos dar mais alento e vivacidade a cada uma delas, realçando o que deve ser acentuado, exteriorizando a satisfação e alegria íntima assim vividas e manifestadas.

(Continuará)