Por ocasião do próximo 53.º Congresso Eucarístico Internacional, que se realizará em Quito em setembro deste ano, Monsenhor Alfredo José Espinoza Mateus, concedeu uma entrevista ao meio de comunicação e informação sobre a Igreja, Omnes. Publicamos a tradução da mesma, retirada do site oficial do Congresso (https://www.iec2024.ec/vida-eucaristica-en-ecuador/).
Nascido em Guayaquil, foi ordenado sacerdote em 1988 e é atualmente Arcebispo de Quito e Primaz do Equador.
O ano de 2024 tem um significado muito especial para os fiéis católicos do Equador: Quito acolherá o 53º Congresso Eucarístico Internacional. Nesta ocasião, Omnes entrevistou o Primaz do Equador, cujas razões para a sua escolha como anfitrião incluem o 150º aniversário da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus, que o tornou o primeiro país a realizar esta consagração.
Qual foi o motivo que levou o Papa a escolher Quito como sede do Congresso Eucarístico Internacional (CEI)?
– Os bispos do Equador, numa assembleia plenária em 2014, ratificaram o pedido, feito alguns anos antes, de pedir para acolher o Congresso Eucarístico Internacional em 2024, por ocasião da celebração do 150º aniversário da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus. Historicamente, o Equador foi o primeiro país do mundo a consagrar-se ao Coração de Jesus. O Santo Padre teve em conta esta celebração tão especial e deixou-o claro em 20 de março de 2021, quando informou o mundo inteiro de que o Equador, e Quito em particular, seria o anfitrião do 53º Congresso Eucarístico Internacional.
Além disso, o Santo Padre pôde afirmar claramente o seu desejo para este grande acontecimento da Igreja: “Neste encontro eclesial, manifestar-se-á a fecundidade da Eucaristia para a evangelização e a renovação da fé no continente latino-americano”. Recorde-se que, após vinte anos, a América Latina volta a acolher o 48º Congresso Eucarístico Internacional em Guadalajara. Como dizemos, o Congresso volta a ter um “rosto latino-americano”.
Que benefícios prevê para a própria diocese com esta designação como anfitriã do IEC? Em que aspetos concretos se espera que esta decisão tenha um impacto positivo?
– O grande benefício é, sem dúvida, um benefício pastoral. Creio, como o cardeal do Quebeque, Sua Eminência Gérald Lacroix, me pôde dizer em Budapeste, que a grande riqueza que o congresso deixa é o caminho de preparação na arquidiocese. E estamos a trabalhar intensamente nisso, não só em Quito, mas em todo o país. Queremos renovar a vida eucarística no nosso país. Queremos também, poderia dizer, corrigir os erros que ocorrem nas celebrações eucarísticas, queremos aprofundar o grande amor à Eucaristia e renovar como país e como família equatoriana a nossa Consagração ao Sagrado Coração de Jesus.
Como conseguiram coordenar os preparativos em Quito e que conselhos dariam a outros países que enfrentam desafios semelhantes?
– A questão organizativa é complexa, não é uma tarefa fácil. Vou referir-me primeiro aos aspetos estritamente operacionais e depois aos pormenores pastorais.
Desde o primeiro momento em que tomámos conhecimento da designação de Quito como sede do Congresso Eucarístico Internacional, começámos a formar as várias comissões, procedi à nomeação de um secretário-geral do congresso na pessoa de Juan Carlos Garzón, sacerdote da arquidiocese de Quito, comunicámos com o Pontifício Comité Eucarístico Internacional, e aqui devo agradecer imensamente o apoio e o trabalho conjunto que temos vindo a fazer com Corrado Maggioni e Vittore Boccardi, com quem tivemos encontros tanto em Roma como em Quito. Gostaria também de sublinhar que temos estado a trabalhar em conjunto com a Conferência Episcopal do Equador. Estou ciente de que Quito é a sede, mas estou convencido de que é a Igreja do Equador que é responsável pelo congresso. Tivemos reuniões com as mais altas autoridades do país e da cidade, bem como com várias instituições públicas, para trabalharmos em conjunto para o êxito do congresso.
Do ponto de vista pastoral, poderia salientar muitos aspetos. Foram produzidos trípticos e dípticos para comunicar o que é um Congresso Eucarístico. Foram elaborados vários subsídios, entre os quais destaco a catequese Como viver a Eucaristia, da qual já foram vendidos cem mil exemplares, e a Eucaristia, coração da Igreja. Ambos os livrinhos contêm as catequeses eucarísticas do Papa Francisco; o que se fez foi dar-lhes uma metodologia de reflexão. Em Quito, este ano, na catequese de iniciação cristã, estamos a trabalhar no primeiro caderno de catequese eucarística.
Um trabalho interessante foi a elaboração de um opúsculo com nove celebrações de adoração eucarística dirigido especialmente aos jovens, que intitulámos Face a face.
Há o Documento Base do Congresso com o tema Fraternidade para curar o mundo. O caminho até ao Documento Base foi longo, foi criada uma Comissão Teológica que trabalhou arduamente. O trabalho foi enviado para Roma, foram feitas correções, foi reestruturado. Em suma, foi todo um trabalho, poderia dizer “artesanal”, para chegar a um Documento que tem um “toque latino-americano” e que pretende ser uma contribuição para a Igreja universal. Foram publicados dois livrinhos, um só com o texto completo do Documento e outro com o Documento propriamente dito, além de uma celebração de adoração eucarística e nove guias de estudo para a compreensão do texto. Este processo de entrada no Documento Fundamental será o caminho para o ano de 2024.
Outros elementos que ajudaram foram: o logótipo do congresso, a oração do congresso, que já foi traduzida em várias línguas, incluindo o shuar e o quichua. E o concurso de hinos destacou-se. O hino é agora cantado em praticamente todas as duzentas paróquias da arquidiocese.
Não posso deixar de referir o trabalho que temos vindo a desenvolver com a Comissão Nacional da IEC 2024. Esta comissão é composta por delegados das vinte e seis jurisdições eclesiásticas do país e é presidida por D. Maximiliano Ordóñez, bispo auxiliar de Quito. Com eles, divulgamos o congresso e eles são responsáveis por replicar todo o trabalho, bem como por ter várias iniciativas pastorais nas suas próprias jurisdições.
Finalmente, o símbolo do congresso, um grande folheto evangélico, ajuda-nos a evangelizar. É a Palavra de Deus que nos convoca, nos reúne à volta da mesa da Eucaristia e nos convida a construir a fraternidade. O símbolo já está a percorrer as jurisdições eclesiásticas do Equador.
Quem são os principais promotores na vossa diocese e quais são os instrumentos mais eficazes que utilizam para assegurar a transmissão da mensagem?
– É uma missão conjunta. Não digo que é um trabalho, vou mais longe, falo de uma missão porque estamos numa grande missão evangelizadora à volta do Congresso Eucarístico, que envolve em primeiro lugar os bispos. No caso de Quito, os três bispos auxiliares e eu próprio como arcebispo. Envolve também os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os catequistas, a quem entregámos a responsabilidade de serem “missionários eucarísticos”, e envolve também os movimentos laicais, que assumiram esta tarefa com grande entusiasmo.
Posso destacar várias iniciativas nas jurisdições. Em Quito, foi convocado o “Ano Eucarístico”, que está aberto a muitas iniciativas pastorais que estão a decorrer. Na arquidiocese de Guayaquil, o arcebispo Luis Cabrera acaba de abrir o “Ano do Sagrado Coração de Jesus”, porque não devemos esquecer a razão principal do congresso, embora tudo esteja centrado na Eucaristia.
E, na arquidiocese de Cuenca, Marcos Pérez Caicedo tem previsto organizar em maio um simpósio intitulado “Maria e a Eucaristia”. Cuenca é uma cidade com uma tonalidade mariana única. Estão a surgir iniciativas, mas perguntam-me como é que se consegue uma “uniformidade”. Eu responderia antes que procuramos a “unidade”, respeitando a criatividade pastoral nas jurisdições eclesiásticas, nas paróquias, nos movimentos e noutros membros. Há uma coordenação, a partir do Secretariado Geral e do Comité Local da IEC 2024. A Comissão Nacional da IEC 2024 está a trabalhar para conseguir esta unidade, são dadas orientações, são elaborados materiais e sim, não o posso negar, estão a ser corrigidos erros.
Qual tem sido o papel dos leigos na organização?
– É um trabalho conjunto. Estamos todos envolvidos, como já disse: bispos, padres, religiosos e leigos. Tanto no comité local como nas comissões do congresso, os leigos desempenham um papel de liderança. Podemos dizer que “tecemos” uma rede de trabalho e fazemo-lo com grande responsabilidade, com um profundo sentido de Igreja e com uma visão pastoral.
Que realizações ou frutos podem ser destacados até agora na arquidiocese como resultado desta designação como sede da IEC?
Atrevo-me a dizer que o principal fruto, neste momento, é que o Congresso Eucarístico já está a ser vivido na nossa arquidiocese. Há um ano que o dizemos, o congresso de Quito não será em 2024, o congresso para a nossa arquidiocese é um “já”, temos de o viver, e a preparação para ele ajuda-nos a viver, celebrar, cantar, rezar e aprofundar a Eucaristia no coração de cada fiel e de cada paróquia.
Que argumentos considera mais convincentes para incentivar as pessoas a deslocarem-se a Quito e a participarem neste evento?
O Papa Francisco, numa audiência privada com o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Equatoriana, da qual sou vice-presidente, disse-me que queria um Congresso Eucarístico “austero mas fecundo”. Baseio-me nestas palavras para dizer que o argumento principal seria que queremos viver um Congresso “fecundo”, que nos ajude a refletir, celebrar e aprofundar na nossa vida de cristãos, a centralidade da Eucaristia está em assumir o compromisso de uma “fraternidade para curar o mundo”.
Cada Congresso Eucarístico tem a sua estrutura ou dinâmica, para sermos mais precisos. No simpósio queremos propor uma visão mais real e pastoral, queremos partir de uma reflexão sobre a fraternidade a partir de sete pontos de vista diferentes: política, mundo indígena, economia, filosofia, educação e outros.
Uma coisa que devo sublinhar é que, desde o início, não quisemos, e não será, um congresso “clericalizado”. E, como nos disse o Cardeal Mario Grech, “o Congresso Eucarístico é a Vigília do Sínodo”. Recordemos que ele terá lugar cerca de um mês antes da instalação da segunda sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade. Por isso, queremos que as catequeses dos cinco dias sejam dadas por representantes do Povo de Deus: uma religiosa, um leigo, um sacerdote, um cardeal e um bispo que tenha uma relação com a realidade da Amazónia. Procuramos também leigos, religiosos e religiosas, sacerdotes, indígenas, para os vários testemunhos que serão dados no Congresso.
Que experiências podem esperar as pessoas que vão participar neste momento especial que é o Congresso Eucarístico Internacional?
– Eu diria que podem esperar um grande acolhimento, um clima de alegria, a riqueza da experiência de um povo que ama Deus, que vive a Eucaristia e manifesta a sua fé, que pede a bênção, sinal caraterístico do nosso povo. Podem esperar diversidade cultural e um folclore único, e algo que mais ninguém tem, Quito é “La Mitad del Mundo “, o congresso realiza-se na latitude zero do mundo, e daqui, para o mundo inteiro, queremos abrir as nossas mãos e os nossos corações. Esperamos por vós!