Silva Araújo
1. A vivência do Sagrado Lausperene não se deve limitar ao tempo de adoração a Jesus presente na Hóstia consagrada.
Lembro, a propósito, duas das grandes recomendações do 5.º Congresso Eucarístico Nacional realizado em Braga de 31 de maio a 02 de junho do no passado: «Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade». «Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia».
2. No Sagrado Lausperene o importante é o Senhor. O Senhor que deve ser louvado e adorado. O Senhor que se fez nosso companheiro e nosso alimento. O Senhor que também está nos outros, que devem ser respeitados como templos de Deus que são.
Deve ser vivido como momento forte de tomada de consciência do que a Santíssima Eucaristia é e de como a devemos viver ao longo do dia.
Momento privilegiado para refletirmos sobre o dever de eucaristizarmos a vida, vivendo-a em ação de graças e colocando-a ao serviço dos outros. Dando-a por amor, como Jesus fez. Adotando o amor como estilo de vida. Um amor que procura ser cada vez mais adulto. Mais um servir do que servir-se. Mais um viver para do que viver à custa de.
Deve ser ocasião para avivarmos a consciência do dever de amarmos os outros como Deus nos ama: com um amor gratuito, que perdoa e que esquece.
3. Escreveu Bento XVI no número 14 da encíclica Deus é Amor:
«Na comunhão sacramental, eu fico unido ao Senhor como todos os demais comungantes. (…) A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros a quem Ele se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; só lhe posso pertencer se unido a todos aqueles que se tonaram ou tornarão seus. A comunhão tira-me para fora de mim mesmo, projetando-me para Ele e, deste modo, também para a união com todos os cristãos».
(…) «Na comunhão eucarística está contido o ser amado e o amar, por sua vez, os outros. Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido é em si mesma fragmentária».
4.Com que coerência se fazem declarações de amor a Jesus presente na Hóstia consagrada e depois se abandona, despreza, maltrata esse mesmo Jesus presente nas pessoas de família, nos vizinhos, nos colegas de trabalho, nos conhecidos ou desconhecidos?!
Quem ama Jesus, coerentemente não ofende os outros, não os difama, não os prejudica, não os explora, não abusa deles, não lhes inferniza a vida.
Jesus também está fora da igreja. Está em casa, no trabalho, no mundo dos negócios, nas diversões. Jesus Cristo anda na rua, como canta Hermano da Câmara.
É fácil amar o Senhor do Sacrário, mas o Senhor do Sacrário é o que manda amar como ele ama. O que manda amar a todos sem distinção. É o que manda perdoar as ofensas. É o que manda rezar por quem persegue e calunia. É o que não despacha a multidão faminta mas lhe dá de comer (Marcos 6, 34-44).
Para um cristão consciente o Lausperene continua na vida. Na forma como trata os outros. Na forma como diz que a sopa está salgada. Na forma como responde a perguntas inconvenientes. Na forma como cumpre os próprios deveres. Na forma como assiste a um jogo de futebol e reage a um erro do árbitro.
5. Bem vivido, em vez de gerar comentários sobre qual a igreja onde «o Senhor estava mais bonito», o Sagrado Lausperene há-de levar-nos a um maior empenho na recristianização da nossa sociedade e na construção de um mundo mais humano, mais fraterno, mais solidário.
O Lausperene não é, de forma alguma, um concurso de tribunas ou de templos floridos mas a decisão de cada vez amar mais e melhor Jesus presente nos outros.
6. Ai Domingos, Domingos, que não custa nada fazer sermões…
O Senhor te ajude a fazeres o que aconselhas aos outros.