Silva Araújo
1. Entre a Quarta-Feira de Cinzas e a tarde de Quinta Feira Santa celebra-se na cidade de Braga o Lausperene Quaresmal. Foi instituído pelo arcebispo Dom Rodrigo de Moura Teles que, em 12 de outubro de 1709, solicitou ao Papa Clemente XI o Jubileu do Lausperene, uma adoração contínua a Jesus Sacramentado. Começou a fazer-se em 1710, só na Quaresma, «por não haver igrejas bastantes por onde circulasse todo o ano».
A partir de setembro de 1957 passou a celebrar-se, em toda a Arquidiocese, que então incluía as paróquias da que hoje é a Diocese de Viana do Castelo, o Lausperene Diocesano. Era Bispo Diocesano Dom António Bento Martins Júnior que tinha como auxiliar Dom Francisco Maria da Silva.
A celebração deste Lausperene resultou de um voto do 3.º Congresso do Apostolado da Oração, realizado em Braga de 15 a 19 de maio daquele ano.
Foi elaborado então um calendário de maneira que, ao longo do ano, o Santíssimo Sacramento estivesse solenemente exposto todos os dias pelo menos em uma das, ao tempo, 833 paróquias da Arquidiocese.
O tempo de exposição, na generalidade das comunidades, incluía também a noite, mediante a organização de turnos de pessoas que se revezavam.
Porque, entretanto, o Lausperene Diocesano deixou de ser o que era, até porque foi criada a Diocese de Viana do Castelo, houve necessidade de reformular o calendário, tarefa de que se encarregou Dom José Cordeiro, conforme notícia publicado no «Diário do Minho» de 29 de dezembro do ano 2024. Daí o título que dei a este texto: regresso do Sagrado Lausperene.
2. Como o nome indica, o Laus perene é um louvor continuado, não momentâneo. É uma forma de adorar Jesus presente na Santíssima Eucaristia.
À saudação do presidente da celebração «O Senhor esteja convosco», a assembleia responde: «Ele está no meio de nós». Jesus é o Emanuel: Deus connosco. Deus que se fez um de nós; que encarnou no seio da Virgem Maria. Sem deixar de ser Deus, assumiu a natureza humana.
O Lausperene é uma forma de lembrar uma das presenças de Jesus entre nós.
Ele veio há mais de dois mil anos, no que hoje denominamos por Dia de Natal (Lucas 2, 1-21). Virá no fim dos tempos, como juiz universal, no que se chama Parusia (Lucas 21, 27; 34-36). Entre estas duas vindas Jesus arranjou forma de continuar no meio de nós.
Ele está no altar quando, na celebração da Missa, na Consagração, o sacerdote repete as palavas que Jesus proferiu na Última Ceia (Mateus 26, 20-28): «isto é o um corpo»; «este é o meu sangue». O que era pão e vinho transubstancia-se no Seu Corpo e no seu Sangue.
Está presente nas hóstias consagradas guardadas no Sacrário. São o Jesus escondido, como gostava de dizer o Santo Pastorinho de Fátima, Francisco.
Tal presença é assinalada por uma luz acesa. Por isso, ao passar diante do sacrário que tem Jesus, quem pode deve ajoelhar com o joelho direito. Não podendo, faz inclinação profunda.
3. Esta não é a única presença de Jesus no meio de nós. Também está presente nas assembleias cristãs. Ele disse: «onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mateus 18,20).
Está presente em cada uma das pessoas, particularmente nas mais fragilizadas: «tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; … sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mateus 25, 31-40).
«Eu sou Jesus a quem tu persegues», disse a Saulo, a caminho de Damasco (Atos dos Apóstolos 9, 5).
4. Durante o Sagrado Lausperene expõe-se solenemente uma Hóstia consagrada, a fim de Jesus, aí presente, ser adorada pelos fiéis.
Sobre o local onde deve ser exposto Jesus na Hóstia consagrada falarei na próxima semana. Adianto, entretanto que deve ser evitado tudo o que possa distrair do essencial: a presença de Jesus.