Publicamos a homilia de D. José Cordeiro proferida na Eucaristia com a comunidade da paróquia de Nossa Senhora de Fátima-Andaluzia, arquidiocese de Quito.
Fraternidade para curar o mundo. “Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8).
Muito obrigado pela vossa hospitalidade fraterna.
Estamos em casa! Com o olhar terno da Mãe, a Mulher Eucarística, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, todos nos sentimos irmãos em Jesus Cristo. Somos todos irmãos e irmãs porque somos filhos de Deus Pai por Jesus no Espírito Santo.
O 53.º Congresso Eucarístico Internacional leva-nos em peregrinação à bela cidade de Quito, “o pequeno rosto de Deus“.
1. Estender a mão
Jesus está de novo na sinagoga, no sábado, o dia santo dedicado a Deus. O olhar misericordioso de Jesus dirige-se a um homem com uma mão atrofiada, incapaz de trabalhar e, portanto, de levar uma vida pessoal e familiar digna.
A pessoa humana está no centro da assembleia e é o caminho da Igreja. Jesus disse-lhe: «Estende a tua mão» e pela sua mão ela foi restituída. Jesus é a misericórdia em pessoa que cura e liberta.
Rezemos e trabalhemos pela justiça e pela paz, sabendo que «a resposta do Evangelho é a Misericórdia» e que «a Misericórdia é o coração de Deus», como afirmou vivamente o Papa Francisco. Estejamos inteiros a tempo inteiro, para que Jesus Cristo nos dê a plenitude da alegria e da misericórdia sem fronteiras.
O amor é exigente, porque é verdadeiro e o amor verdadeiro é sempre uma força que transforma. Onde não há amor não pode haver vida. Deus não está presente num coração ausente.
2. Coração de Maria, Evangelho vivo
Entre todas as criaturas, Maria é aquela que melhor encarna o Evangelho da misericórdia e nos impele a uma cultura da misericórdia.
Maria, no Magnificat, canta: «a sua misericórdia estende-se de geração em geração».
Ao longo da história cristã, muitas orações a Maria imprimiram a dimensão da misericórdia, como a Salve Regina: « Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa (…) Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei».
Como Maria concebeu Jesus Cristo na terra, assim a Igreja é chamada a gerar a Eucaristia. Ela é «um “sacramento de Jesus Cristo” e o seu coração é um “Evangelho vivo”» (H. Du Lubac).
3. Eucaristia, sacramento do encontro
Hoje o Martirológio dá testemunho de São Pedro Claver “escravo dos escravos, que vos ajudou com admirável caridade e paciência”. «São Pedro Claver, sacerdote da Companhia de Jesus, que, em Cartagena, Colômbia, durante mais de quarenta anos, com admirável abnegação e grande caridade, se dedicou ao serviço dos negros tomados como escravos, dos quais cerca de trezentos mil renasceram para Cristo através do Batismo por ele administrado».
A Liturgia é um lugar de encontro com Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, um lugar de missão. A este respeito, o Papa Francisco adverte: «Uma celebração que não evangeliza não é autêntica, assim como não é autêntico um anúncio que não leva ao encontro com o Ressuscitado na celebração: ambos, sem o testemunho da caridade, são como um latão que bate ou um címbalo que retine (cf. 1Cor 13,1)» (DD 37).
A Igreja vive da Eucaristia. Esta é a sua dimensão decisiva, não exclusiva. A liturgia é a primeira escola da fé e da vida espiritual. Nela deixamos de falar de Deus, para falarmos com Deus e trabalharmos em Deus. Celebrar, isto é, frequentar a Liturgia é cultivar em perene surpresa o organismo vivo que é a Igreja, contemplando «a beleza e a verdade da celebração cristã»(DD 1).
✠ José Manuel Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga, presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade e delegado da Conferência Episcopal Portuguesa para os Congressos Eucarísticos